quarta-feira, 10 de março de 2010

Livro reconstrói o último ano de Getúlio Vargas; leia trecho


Divulgação
Este Livro passa a limpo o último ano do governo de Getúlio Vargas



Nascido em São Borja (RS), Getúlio Dorneles Vargas (1882-1954) foi presidente da República e governou o Brasil por quase 20 anos.



O político foi um dos responsáveis pelo fim da República Velha. Como líder civil da Revolução de 30, acabou por se tornar chefe do governo provisório.

Eleito presidente pela primeira vez quatro anos depois do golpe de Estado, o gaúcho implantou em 1937 o chamado Estado Novo, que durou até 1945.

Após seis anos, Vargas retornou à Presidência por meio de voto popular. Pressionado a renunciar, cometeu suicídio em agosto de 1954, no Palácio do Catete.

Amado e odiado, Getúlio Vargas marcou a história do nosso país. O livro "1954: um Tiro no Coração" reconstrói o último ano de vida do "pai dos pobres", como era chamado.

Em mais de 400 páginas, o volume reúne importantes arquivos e depoimentos de personagens do nosso passado recente, além de analisar a enorme crise gerada por sua morte.

Abaixo, leia um trecho do livro.

*

Vargas em São Borja

Vargas voltara aos pagos. O Rio de Janeiro não retivera o ditador deposto em outubro de 1945. Eleito senador por dois estados, não fizera opção. Foi a Justiça Eleitoral que determinou a prioridade da inscrição pelo PTB do Rio Grande do Sul. Nem o Senado, nem os trabalhos da Constituinte, em que podia liderar a numerosa bancada trabalhista, eleita pelo seu nome, como cabeça de chapa, conseguiram prendê-lo. É verdade que não o trataram muito bem. Velhos adversários quiseram forçar o ajuste de contas a que não se recusou, aceitando mesmo o desforço pessoal. Assim, não assinou a Carta de 1946, nem iria desrespeitá-la, ele a quem acusavam de ter deixado de cumprir as Cartas de 1934 e 1937. Outros se incumbiriam dessa tarefa...

Também a Academia Brasileira de Letras, que reformara os estatutos para convidá-lo a se candidatar e elegê-lo, atraiu-o moderadamente. Foi três ou quatro vezes aos chás das quintas-feiras, assistiu às sessões, conversou, na planície, com alguns acadêmicos com os quais não tinha tido condições de diálogo quando estava no alto.

Na velha estância da família, acordava cedo, bebia o amargo, campeava com os seus peões. Vida primitiva. Comia junto com o capataz.

O burburinho dos primeiros dias, quando os aviões pequenos levantavam a poeira nas pistas malcuidadas de São Borja, levando políticos e curiosos jornalistas, havia cessado logo depois das eleições cuja sorte decidira com o slogan que julgava os acontecimentos de 29 de outubro: "Ele disse".

A solidão da quietude do pampa seria a moldura dos seus dias por muito tempo. Até que o minuano político, o vento da sucessão, a crise periódica da República sacudisse, outra vez, a poeira da estrada.

O problema sucessório do presidente Eurico Gaspar Dutra não se apresentou fácil. As legendas dos onze partidos políticos, inscritos na Justiça Eleitoral, não significavam, na verdade, a arregimentação partidária de um povo politizado. Mesmo os três rótulos, mais credenciados, do resultado do último pleito - PSD, UDN e PTB - eram vistosas fachadas de construções cinematográficas, em madeiramento leve de papelão pintado. Isso se demonstraria na primeira oportunidade. A primeira oportunidade seria a eleição presidencial.

Frente à sucessão presidencial, as três principais organizações partidárias aprestaram-se para se colocarem de maneira a assegurar mais um período de predomínio. O partido majoritário, o PSD, assim considerado pela sua representação parlamentar, fizera presidente da República o seu candidato, general Eurico Gaspar Dutra. Na realidade, a eleição foi decidida pelo apoio de Getúlio Vargas, materializado na votação do PTB. Essa situação invulgar assinala e caracteriza o início de um processo sucessório tumultuado. Porque o partido majoritário, ocupando a Presidência da República e os principais postos executivos, além de dispor da maioria do Congresso, não vai ter condições para traçar normas na escolha do futuro presidente. Assim, vamos assistir a toda uma competição interna com a proliferação de candidatos e, finalmente, à escolha de um nome a ser fragorosamente derrotado nas urnas.

A UDN também não dominará o processo. Um raciocínio natural aconselharia a coligação das forças conservadoras, que a UDN e o PSD representavam, para enfrentar o prestígio emergente das massas populares representadas pelo PTB, pelo PSD e pelo PCB. Sem contar os partidos menores que se alinhavam, formando o leque do panorama político.

A UDN participará dos primeiros entendimentos, tentando impor a candidatura de seu patrono, aquele mesmo que nucleara a agremiação, embora já uma vez derrotado nas urnas. Dessa corrida de ambições vai beneficiar-se o PTB para apresentar, na reta da chegada, o candidato imbatível, embora mal recebido pelas agremiações que perderam a eleição na véspera do pleito.

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"1954: Um Tiro no Coração"
Autor: Helio Silva
Editora: L&PM Editores
Páginas: 408
Quanto: R$ 22,00
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha



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